Victor Aranha

Victor Aranha

Céu azul e gramados verdes, pessoas passeando com suas famílias e animais de estimação. Um domingo perfeito no parque, do tipo que quase nada poderia estragar. O surgimento repentino de uma pirâmide gigantesca, rasgando a terra e emergindo no meio da área de piquenique, entretanto, surtiu esse exato efeito.

Um evento inesperado e que gerou reações peculiares. A maioria dos presentes fez o que se esperaria e fugiu de lá o mais rápido possível. Alguns, entretanto, permaneceram exatamente onde estavam, assistindo o monólito brotar da terra com uma fascinação que superava qualquer instinto.

 

Depois de seu espetacular surgimento, a pirâmide nada fez além de flutuar alguns metros acima do chão por alguns instantes – o que, por si só, já é um feito impressionante e perturbador para milhares de toneladas de pedra. O olho desenhado em seu topo – pelo menos, presume-se que era um desenho – fitando o céu, distante. E logo após veio a voz.

Os curiosos que a cercavam foram os primeiros a ouvir, mas logo ela alcançava todos na cidade. Uma voz baixa, não um sussurro, mas um grito muito distante que dizia coisas no fundo de suas mentes, coisas como “Quantas vezes quiser”, “Ele a matou perto do rio”, “Ela sempre soube, mas escolheu nada dizer”. Frases desconexas, incessantes e aparentemente sem sentido assolavam todos na cidade, até que um deles ouviu “Aqui estou para dar todas as respostas, mas nunca as perguntas”.

Logo, a cidade estava quase deserta. As verdades constantes e implacáveis erodiam as mentes dos cidadãos como ondas contra um castelo de areia. Somente os mais desesperados permaneceram, esperando encontrar alguma verdade em especial, tentando matar a sede em uma enchente.

*conto criado para um concurso, com o limite de 20 linhas. Escrever menos é muito mais difícil que escrever mais.